terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Tantra e suas Origens

Há 5 mil anos, os hindus já afirmava que todo o Universo, incluindo, plantas, animais, planetas e até os seres humanos são movidos por energia. E queesta energia que nos move, nos orienta está interligada. Como numa espécie de rede, cada um de nós está sujeito, a lei da ação e reação. Buscar o equilíbrio e harmonização das energias (yin e yang para os taoístas) é uma necessidade para uma vida realizada e saudável. O que exige, muitas vezes, profundas mudanças. 
 
Dentre os vários significados do termo TANTRA, pessoalmente, prefiro o citado por Mircéa Eliade que separa a palavra em sua raiz tan= estensão, expansão; e tra= consciência. Tantra seria então, a expansão da consciência, o desenvolvimento.
 
Mas o que o isso tem a ver com uma vida melhor, passados cerca de 5 séculos? Para chegarmos a essa resposta, precisamos voltar lá atrás nas origens  do Tantra. 
 
 No começo o Tantra era transmitido de geração a geração através de ensinamentos orais. Era parte da tradição de uma sociedade matriarcal, sensorial, naturalista e desrepressora. Ou seja, totalmente oposta aos princípios da sociedade em que vivemos. Felizmente, com o surgimento da escrita, alguns textos tântricos foram escritos e tornaram-se livros ou escrituras secretas do hinduísmo, os chamados Shastras e assim seus ensinamentos, em parte, não se perderam.
 
Nas sociedades não-guerreiras, como eram os  drávidas (povo hindu), a cultura era centrada na mulher que era fortemente exaltada e até mesmo endeusada, pois ela  tinha o poder de gerar vida. Da característica matriarcal temos também seu caráter sensorial  e desrepressor ( a mulher gera e alimenta,  dá carinho, aquece, protege, cuida..). Através das práticas tântricas, era a mulher que despertava o poder interno do homem por meio da experiência sacralizada. O impulso pelo prazer não é reprimido como ocorre noutras linhas comportamentais, pelo contrário, o tantra considera o prazer como uma via  válida na conquista do desenvolvimento interior. Assim pensava e agia  o povo drávida, que vivia antigamente no território hoje ocupado pela Índia.
 
Assim também eram o tantra e o yôga que existia nessa época: um yôga tântrico. Até ao dia em que a Índia começou a ser invadida pelos arianos.
 
Ao guerreiro não se admitia uma relação mais séria com a mulher, família ou qualquer afeto mais profundo, pois esses laços iriam amolecê-lo e consequentemente torná-lo receoso perante a expectativa da luta e da morte sempre iminentes. Tornou-se por isso, uma sociedade contrária a influência da mulher que frenaria a liberdade e o impulso de guerreiro; contra os prazeres que o tornariam acomodado; contra a sensorialidade, que o tornaria mais sensível à dor perante o combate ou tortura.
Surgiu assim uma sociedade patriarcal,  anti-sensorial, contra a mulher e contra o prazer. Tornou-se repressora; proibitiva e punitiva. E assim, tomou forma uma filosofia comportamental que perdura por séculos. Horrível não? Mas nem tudo foi perdido...
 
Quando os arianos invadiram a Índia há 3.500 anos, escravizaram os drávidas e impuseram-lhes a cultura brahmácharya (patriarcal, anti-sensorial e repressora). Quem praticasse o tantra e reverenciasse a mulher, ou divindades femininas, era acusado de subversão e traição, era perseguido, preso e torturado até à morte. Com esta proibição,  o tantra tornou-se uma tradição secreta, conhecida e praticada por poucos. Por outro lado, obviamente como acontece em todas as conquistas, os arianos acabaram por absorver determinadas características culturais dos drávidas, revivendo a partir de então, práticas ancestrais expressas num vasto simbolismo: nas forças da natureza, nos mitos de imortalidade e liberdade, nos poderes mágicos e nos seus rituais. Todas essas características, mescladas às tradições arianas, fizeram com que o tantra se tornasse parte importante na formação do hinduísmo.
 
Os ensinamentos tântricos em parte, puderam ser preservados através da escrita e principalmente na relação mestre-discípulo. Ressurgiu no período medieval, entre os séculos IX e XIII d.C. com muitos rituais e uma linguagem devocional que tendia à religião. Novamente, fechado a pequenos grupos de iniciados. Já adquirindo certa força, no século XX com os famosos seguidores do movimento hippie - os Beatles - os integrantes da banda eram seguidores dos ensinamentos do guru Maharashi Mahesh Yoga. Em seguida, aconteceu a revolução sexual dos anos 60. E não podemos deixar de citar o cantor Sting um seguidor dos princípios tântricos os quais adotou para sua vida.
 
 
No Tantra, ao contrário da maioria das filosofias espiritualistas, o corpo não é um obstáculo mas um meio para o conhecimento,pois todo o complexo humano é vivo e sagrado ( "O Deus que há em mim saúda o Deus que há em você")  e por isso mesmo é merecedor de atenção, respeito e reconhecimento.  Há o  uso de  mantras (vocalização de sons e ultra sons em sânscrito ), yantras (figuras geométricas, como mandalas, por exemplo) e rituais que incluem formas de meditação.
 
Aos interessados em obter uma vida mais equilibrada e conectada com o Universo, recomendo que conheçam e pratiquem o Tantra!

Amanda